- -¤--^BY CLARICE LISPECTOR^--¤- -


"Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia.
Sou um o quê? Um quase tudo".
"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar
qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser
perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...
há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.
Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro
castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que era
inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus
grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com
isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você -
respeite sobretudo o que imagina ser ruim em você - não copie uma pessoa ideal,
copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se
houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria
para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa
mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo
o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral
é desistir de si mesma."

( Clarice Lispector - carta enviada à irmã - Paris,
1947 )

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