HÓRUS


Esse olho é tão importante na crença egípcia quanto o terço e o crucifixo são na religião católica. Além de desenhado prodigamente em papiros e paredes de túmulos, era também esculpido na forma de amuletos que acompanhavam a múmia.
O olho de Hórus possui quatro partes que, se compreendidas, ajudam a entender o seu significado.
A parte principal do olho, isto é as pálpebras, a íris e a sobrancelha, formam essencialmente um olho humano.
O desenho comprido, vertical, abaixo do olho, às vezes é descrito como uma lágrima e outras vezes não é explicado. Trata-se, na verdade, de uma estilização do desenho comum na pelagem de alguns animais de casco da África, especialmente da gazela, admirada pelos egípcios e retratada em quadros, esculturas e móveis.



O fio comprido que desce inclinado para trás do olho e termina numa espiral é a estilização do mesmo desenho existente no olho de certos tipos de falcão. Nas penas abaixo do olho de algumas desses aves há um risco preto que se volta para trás.
-O outro fio comprido que sai do canto do olho e se prolonga para trás paralelamente à sobrancelha é uma imitação do mesmo desenho existente nos olhos de gatos de pêlos rajados.
-Esses quatro seres, o humano, o gato, o falcão e a gazela, estão representados no olho de Hórus. Mas por que os egípcios fariam tal conjunção de símbolos? O que significa todos esses seres reunidos num desenho?
Ocorre que a cultura religiosa de vários povos da Antiguidade, inclusive a egípcia, era essencialmente pictórica, e não descritiva. Os sacerdotes, ao invés de registrarem seus conhecimentos em textos explicativos, faziam-no através de pinturas e desenhos, usando as palavras de modo auxiliar, secundário, como hoje se faz numa história em quadrinhos, na TV e no cinema. Atualmente, quando se trata de cultura científica, fazemos exatamente o contrário.

Os sábios egípcios, ao contrário, encerraram a parte principal da explicação nas figuras, não nos textos.
Os seres representados no olho de Hórus são nada menos que os quatro seres que formam a esfinge: a cabeça humana, o corpo bovino, as patas de felino e as asas de águia. Considerando que os antílopes, gazelas, gnus, búfalos e outros animais de casco são parentes próximos dos bois; e que águias, gaviões e falcões são nomes regionais populares para um mesmo grupo de aves (as falconiformes), é fácil deduzir que a esfinge e o olho de Hórus têm suas raízes nos mesmos animais.
A esfinge, tal como o olho, simboliza quatro fases que a pessoa deve vencer para atingir um estado de “iluminação”, isto é, de sabedoria e equilíbrio, busca sempre cultuada pelas religiões orientais.
Assim, o olho de Hórus, mais do que as palavras e frases que o acompanham, representa a lucidez espiritual da pessoa a quem ele se refere, que superou as quatro fases. Essa pessoa adquiriu a capacidade de perceber a realidade em seu significado espiritual, que só a maturidade da alma que atravessou as quatro fases permite, não alcançada ou menosprezada pelo senso comum.


(Dedico esse post a minha sobrinha Luiza que tem tatuada a imagem)

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